Sempre nos comprometemos a estabelecer e a manter relações estreitas com instituições de ensino. Este artigo foi escrito pelos alunos da Politécnica de Milão, como parte de uma colaboração entre nós e o M.Sc. Product Service System Design. Os autores desta peça são Mildred Figueroa Carrera, Maria Lucia Carrillo Herrera, Valeriia Goncharova, Sayori Mukherjee e Shahrzad Habibiparsa e estamos oferecendo a eles uma plataforma para compartilhar seu trabalho com todos vocês! Boa leitura.
Como o Design Especulativo e o Design de Serviço podem facilitar a transformação digital na área da saúde?
Este artigo reflete sobre o poder do Design Especulativo Participativo na saúde como ferramenta para sua transformação digital e o papel dessas áreas de conhecimento na criação de serviços centrados no paciente.
O Design Especulativo gera futuros que atuam como catalisadores do debate público (Dunne & Raby, 2013)
Diferentes perspectivas para a inovação em saúde
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As instituições de saúde são prestadoras dos serviços que impactam diretamente a qualidade de vida das pessoas. Por esse motivo, são constantes as pesquisas voltadas para esse segmento, principalmente no campo digital, o que tem levado os serviços de saúde a passar por um processo de digitalização.
O fato de o foco da transformação digital estar muitas vezes voltado para a economia, para as necessidades da força de trabalho e para as opiniões de especialistas (como médicos e pesquisadores) faz com que, muitas vezes, a voz do paciente seja esquecida.
O Design Especulativo pode contribuir para o Design de Serviço na área da saúde, engajando os diferentes stakeholders para visualizar a experiência por meio de narrativas co-criadas (Lupton, 2017).
Design Especulativo Participativo no contexto da saúde
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O Design Especulativo refere-se a uma prática de criação de objetos (chamados de “design ficcions”) inspirados em cenários futuros. O objetivo é questionar as coisas a que estamos acostumados por meio de perguntas provocativas, que nos ajudam a refletir sobre as possíveis implicações da tecnologia.
Quando as práticas participativas são aplicadas ao lado do Design Especulativo, a colaboração com potenciais usuários nos permite apreender perspectivas mais variadas. Chamaremos essa abordagem de “Design Especulativo Participativo”.
No contexto dos serviços de saúde o Design Especulativo Participativo pode ser utilizado como ferramenta para a transformação digital na saúde, ao vislumbrar preocupações derivadas da evolução tecnológica.
Um estudo de caso realizado por Tsekleves et al. 2017 explorou uma pergunta ousada: e se houvesse um serviço de auto-eutanásia? O protótipo era um produto vestível que abrigava um veneno mortal. Isso suscitou um debate sobre requisitos e ampliou a perspectiva do participante em relação à sua própria saúde, à ética e às políticas.
Uma visão holística para a transformação digital na área da saúde
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O futuro da transformação digital da saúde é difícil. Ele deve considerar necessidades, medos, preocupações, expectativas e desejos de diferentes atores afetados como pesquisadores, médicos, profissionais de saúde, instituições e pacientes.
Avanços em dispositivos de monitoramento de saúde, por exemplo, podem ajudar o paciente a monitorar a saúde primária em sua própria casa, em vez de hospitais. No entanto, preocupações éticas sobre dados, acesso à tecnologia e falhas de sistema continuam sendo questões complexas.
A representação do Design Especulativo Participativo de cenários baseados em histórias por meio de serviços fictícios ajuda a visualizar essas questões e preocupações complexas (Harwood et al., 2020). Trazer mais gente para as discussões permite que pacientes e profissionais de saúde se relacionem com as transformações digitais e discutam os limites da tecnologia.
O potencial para transformar os cuidados médicos como os conhecemos
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A integração da tecnologia em organizações de saúde levanta questões sobre preocupações éticas, custo-benefício e desigualdade de distribuição. Assim, a combinação do Design Especulativo Participativo e Design de Serviço pode ser útil para vislumbrar conceitos e dilemas em torno da transformação digital na área da saúde.
Afinal, ao colocar profissionais da área da saúde, instituições e pacientes no mesmo patamar, promove-se uma troca que pode identificar lacunas de vários ângulos dentro do sistema. Essa abordagem combinada tem o potencial de desafiar o que conhecemos hoje como assistência médica.
Questionar os serviços de saúde por meio do Design Especulativo Participativo pode permitir que formuladores de políticas, empresas farmacêuticas e tecnológicas tenham insights muito mais claros sobre a implementação de tecnologias futuras e entender potenciais de evolução e de transformação digital que ainda não foram vislumbrados. Desta forma, vemos que o Design Especulativo Participativo na saúde deve ser utilizado como ferramenta para a transformação digital do setor, pensando e desenvolvendo soluções que consideram todas as vozes do ecossistema.
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