No dia 15 de abril, nosso estúdio em São Paulo realizou um projeto que há algum tempo estava apenas no papel.
Com olhares atentos e escutas empáticas, criamos um ambiente seguro e acolhedor para 13 participantes que, junto ao nosso time de liveworkers, ao longo de oito horas, puderam dar vida a um workshop de Introdução ao universo do Design Thinking, abordagem que une empatia, criatividade, colaboração e experimentação para encontrar e tangibilizar respostas para os diferentes desafios existentes.
Com o objetivo de atuar de forma ativa e prática na promoção da diversidade e da inclusão, valores que temos fortemente trabalhado ao longo dos nossos anos como organização, entendemos que o workshop deveria ser exclusivo para pessoas trans.
Ao longo da construção desse projeto, o protagonismo foi assumido por liveworkers trans e não-bináries, que, de alguma maneira, vivenciam a realidade das pessoas participantes. E a jornada até chegar ao dia do encontro exigiu do restante da nossa equipe uma profunda imersão no universo das pessoas trans.
Uma jornada de aprendizados
Para esta imersão de Introdução do Design Thinking, foram realizadas pesquisas secundárias e entrevistas, com objetivos de entender em profundidade os contextos, as realidades e as necessidades de todes participantes. Nosso objetivo com isso era o de promover uma real conexão com todes e de pensar em uma estruturação, condução e em atividades que agregassem valor a elus, através de uma identificação real com suas realidades.
Este processo de entender o universo das pessoas trans nos gerou aprendizados de natureza mais pragmática, como a adaptação da linguagem neutra, tanto em todos os nossos materiais, quanto ao longo do encontro.
A partir dos conhecimentos adquiridos pela nossa equipe envolvida diretamente na construção desse projeto, desenharam-se dinâmicas que mesclaram aportes de conteúdo e exercícios práticos.
A realidade das pessoas trans no Brasil
Sabemos sobre a importância da utilização da inovação e do Design na resolução de grandes problemas nas organizações e nas grandes mudanças que ocorrem na sociedade.
No entanto, sabíamos do nosso papel neste processo de especialistas em Design, mas entendíamos que precisávamos buscar especialistas sobre o tema da empregabilidade de pessoas trans no Brasil, e assim, surgiu a iniciativa de uma parceria com a Transempregos, o maior e mais antigo projeto de empregabilidade de pessoas trans no Brasil.
A Transempregos entrou nesse projeto com o papel de ajudar a compreender a realidade das pessoas trans no Brasil. Os insights deles nos ajudaram a entender que, para que o projeto pudesse ter maior aderência, teríamos que considerar a concessão de auxílios transporte e alimentação para quem porventura precisasse, além da recomendação de considerarmos o projeto de forma presencial, e não remota.
Além disso, eles nos auxiliaram na divulgação do workshop, a fim de que as pessoas certas fossem de fato impactadas. Por meio da sua plataforma e das suas redes sociais, essa parceria teve como objetivo principal introduzir pessoas trans ao mundo do Design e, com isso, contribuir para a ampliação da atuação desse público que, nos aspectos profissionais, muitas vezes é marcada por transfobia e discriminações.
Conseguir emprego ou permanecer em um, enfrentar constantes olhares escusos no ambiente de trabalho, conviver com a solidão e o isolamento, não ter seus pronomes respeitados, não conseguir sequer frequentar o banheiro que lhes é de direito, entre tantas outras, são vivências recorrentes para uma população excluída do mercado de trabalho, invisibilizada pela sociedade e vítima de números vexatórios.
De acordo com levantamento da Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), em 2022, no Brasil, houve registros de pelo menos 151 pessoas trans mortas, sendo 131 casos de assassinatos, além de 20 suicídios. Esses índices colocam o Brasil na vergonhosa posição de país que mais assassina pessoas trans no mundo pelo 14º ano consecutivo.
Em relação às atividades profissionais, estudo realizado em 2021 pela plataforma #VoteLGBT com a Box1824 mostra que 20,47% das pessoas trans não têm emprego formal.
A construção de um mundo mais inclusivo
Abrindo espaço para diálogo e trocas de experiências, um dos desafios propostos durante a realização do curso Introdução do Design Thinking foi de “melhorar a experiência de profissionais trans no mercado de trabalho” para ser resolvido por meio de um projeto de Design realizado em um cenário simulado.
Nele, as pessoas assumiram papéis fictícios de contratadas de uma ONG para encontrar soluções que melhorassem a situação de pessoas trans no mercado de trabalho.
Esse macro desafio foi, então, desdobrado em cinco outros, mais específicos, que foram assumidos pelos grupos que se formaram:
- Como ajudar profissionais trans em transição de carreira a conseguir oportunidades?
- Como ajudar pessoas trans em início de carreira a conseguir uma primeira oportunidade?
- Como podemos ajudar profissionais trans a iniciar um empreendimento pela primeira vez?
- Como podemos ajudar organizações a melhorarem o ambiente de trabalho para que se tornem mais diversos e inclusivos?
- Como podemos ajudar profissionais trans que já possuem um trabalho, a crescer em suas carreiras?
A trajetória do Design
Em meio a post-its e intensas trocas de informações nosses participantes puderam ter consciência da importância de se fazer pesquisas e tiveram contato com uma gama de ferramentas que viabiliza essa imersão no mundo do outro, como as entrevistas em profundidade que, na ocasião, foram praticadas por meio das interações entre es própries participantes.
Depois disso, o grupo passou pelos processos de visualização das informações obtidas; de análise, na busca de insights para os problemas; e, finalmente, de síntese dos novos conhecimentos.
“Fomos capazes de deixar as armas lá fora.”
“Fomos capazes de deixar as armas lá fora.”
-
Participante do projeto
A estruturação das dinâmicas e do encontro
Tendo como pano de fundo desafios que dialogassem com o público do workshop, o grupo percorreu todo o caminho pelo qual passa um projeto de Design:
Ao fim do dia, nossa equipe e o grupo do workshop estavam certos de que o objetivo principal do encontro – apresentar o Design Thinking a pessoas trans – havia sido atingido com êxito.
“Eu não tenho pessoas Trans no meu círculo de amizade e nunca estive reunido com tantas pessoas que entendem o que eu vivo no dia a dia…”
“Eu não tenho pessoas Trans no meu círculo de amizade e nunca estive reunido com tantas pessoas que entendem o que eu vivo no dia a dia…”
-
Participante do projeto
Um encontro potente
A percepção geral era de que os maiores e mais importantes ganhos tinham sido outros: um respiro no cotidiano que possibilitou a comunhão das diferenças, a criação de um ambiente seguro, a construção da confiança, a troca de experiências com as pessoas que enfrentam as mesmas realidades e claro, a celebração do conhecimento.
“Saio me sentindo leve e acolhide.”
“Saio me sentindo leve e acolhide.”
-
Participante do projeto